TU ÉS O FILHO DE DEUS VIVO

TU ÉS O FILHO DE DEUS VIVO - JOSÉ RAIMUNDO OLIVA
 
Os três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, narram esta controvertida passagem da "confissão de Pedro", cada um deles imprimindo suas interpretações teológicas pessoais a suas narrativas. Nos evangelhos de Marcos e Lucas, a resposta de Pedro à pergunta de Jesus sobre sua identidade é breve: "Tu és o Cristo (messias)", e merece a repreensão de Jesus. Pedro e os demais discípulos acreditavam que Jesus seria o messias político esperado, que daria ao povo judeu a glória e o poder sobre as demais nações, como um novo Davi, conforme a imagem elaborada pela tradição do Primeiro Testamento. Jesus censura Pedro por esta compreensão e procura demovê-la da mente dos discípulos.
Mateus modifica a narrativa original de Marcos e também adotada por Lucas. Ele dá um novo sentido à resposta de Pedro, à qual acrescenta a proclamação "Filho de Deus vivo". Segue-se a fala de Jesus confirmando a profissão de seu messianismo celeste, ao elogiar a fala de Pedro, declarando-a como revelação divina. Com o acento sobre o caráter messiânico cristológico de Jesus, Mateus dá uma resposta às suas comunidades, oriundas do judaísmo. Ele escreve na década de 80, depois da destruição do Templo de Jerusalém, quando os cristãos inseridos na comunidade judaica estavam sendo expulsos das sinagogas, que até então frequentavam. Ele pretende convencê-los de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel, de modo a não se intimidarem sob as ameaças e repressão da sinagoga e permanecerem na comunidade cristã.
Com a visão teológica de Mateus ficam estabelecidas duas identidades para Jesus: uma, é "o filho do homem", o simples Jesus de Nazaré, inserido na humanidade, na sua humildade, e presente entre ela até o fim dos tempos, porém, dignificando-o e divinizando-o; a outra é o "cristo" ou "messias" (cristo do grego, messias do hebraico, significando "ungido"), que é o Jesus ressuscitado, manifestado em glória nos céus, acima dos poderes celestiais, de onde virá para o julgamento final.
Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos entre Pedro e Paulo (cf., p. ex., Gl 2,11-14), a liturgia os reúne em uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição (primeira leitura) e Paulo, por seu empenho missionário em territórios da diáspora judaica (segunda leitura).

O que é que o Sudário prova?

 

Qua, 27 de Junho de 2012 11:21

por: cnbb

Dom Redovino Rizzardo Bispo de Dourados (MS)

Há poucos dias, acabei de ler o livro de Thomas de Wesselow: “O Sinal – o Santo Sudário e o Segredo da Ressurreição”. Escrevi: “Acabei de ler”. Mas, para ser sincero, não consegui terminá-lo. Não apenas por seu tamanho – 477 páginas – mas, sobretudo, porque, da metade do volume em diante, apesar de agnóstico e racionalista, o autor passa a exercer a função de teólogo, com inúmeras e graves discrepâncias em relação à fé das Igrejas cristãs.

Como historiador da arte, porém, Thomas Wesselow realizou uma obra admirável. Com maestria e competência, fundamentado na ciência e na história, ele leva o leitor à plena certeza de que o Sudário depositado atualmente numa igreja de Turim, é um lençol que envolveu o corpo crucificado de um judeu no século I da Era Cristã, e que, a partir dos Evangelhos, só pode ser o do homem Jesus.

Para ele, as fotografias do Sudário feitas por Secondo Pia, em 1898, são uma prova irrefutável de que a imagem nele desenhada não é uma pintura medieval: «O negativo da fotografia do Sudário é a defesa da autenticidade da peça. Demonstra que a imagem possui uma estrutura oculta que não poderia ter sido concebida no século XIV, quando a presença da relíquia na Europa foi documentada pela primeira vez. Um simples olhar à inversão automática da imagem basta para fazer desaparecer a ideia de que ela possa ser obra de um pintor. Se é uma falsificação, seria a mais engenhosa e improvável falsificação da história, uma obra de habilidade e astúcia estupendas. Se não é, provavelmente está ligada, como afirma a tradição, à morte e ao sepultamento de Jesus».

Como apoio à tese, traz o testemunho de dezenas de estudiosos, inclusive de quem não partilha a fé cristã: «Como disse o grande historiador da arte judeu Ernst Kitzinger, “não há pinturas que apresentem marcas de sangue como as do Sudário. Quem quiser pode procurar à vontade, mas não encontrará nenhuma”. Se a imagem do sangue não foi pintada, é porque resulta forçosamente de uma morte e de um sepultamento genuínos».

O que dizer, então, do exame do Sudário feito pelo carbono 14, em 1988? A resposta é dada pelo autor num capítulo de 14 páginas, cujo título fala por si mesmo: “O fiasco da datação por carbono”: «Para a maioria das pessoas, a datação por carbono realizada em 1988 foi a prova definitiva de que o Sudário era produto da Idade Média. A realização do teste no Sudário, porém, foi tão confusa e insatisfatória quanto a realização de um grande projeto científico poderia ser. A noção popular de que a datação por carbono do Sudário foi definitiva, é simplesmente equivocada».

Seu raciocínio começa a soçobrar quando se decide a apresentar uma explicação para a formação da imagem de Jesus no Sudário: «Quando nos vemos diante de um fenômeno misterioso, geralmente é sensato supor que ele tem uma causa natural.

Embora o Sudário pareça resultar de um único processo de formação de imagem, não há razão para duvidar de que esse processo obedeceu às leis da natureza. Afinal, outras imagens estranhas e automáticas existem, e não é preciso invocar milagres para explicá-las. A imagem do Sudário foi criada por vapores emanados do corpo humano. Muitos dos envolvidos no estudo do Sudário acabaram acreditando, acima de qualquer prova científica, que ele é o traço material de um milagre, que sua imagem representa o brilhante clarão da Ressurreição».

Para Wesselow, Jesus é um homem como qualquer outro: morreu, foi sepultado e seu corpo não escapou da decomposição. O Ressuscitado que as mulheres encontraram na visita que fizeram ao túmulo no domingo de manhã... era sua imagem impressa no Sudário: ««Longe de estar vazio, o sepulcro continha não só o corpo de Jesus, mas também uma aparição misteriosa no pano mortuário. Foi essa aparição que assombrou as mulheres e fez com que sua ida à tumba fosse comemorada nas histórias que entraram nos Evangelhos».

Como qualquer outro racionalista, Thomas de Wesselow só admite o que a ciência explica. Mas, talvez por ter acolhido um lampejo de luz divina, fez uma descoberta fundamental e decisiva: «Os cristãos acreditam na ressurreição não porque consideram que o Sudário foi produzido pela desmaterialização luminosa de um corpo humano, mas porque têm fé nos relatos dos Evangelhos».

O Cântico da Sabedoria

Ter, 26 de Junho de 2012 11:44 

por: cnbb

Dom Aloísio Roque Oppermann Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

O livro da Sabedoria é o último escrito bíblico do primeiro testamento. Seu autor (ressalvando sempre que o inspirador é o Espírito Divino),  é  um piedoso judeu de Alexandria, que se distinguiu não somente pelos seus sólidos conhecimentos, mas também pela leitura dos acontecimentos humanos pelo prisma da fé. Suas páginas contém ensinamentos admiráveis. Dentre esses quero destacar especialmente um trecho, pertencente ao capítulo nono, cujos conceitos batem de frente com certas posições da modernidade.Tais idéias “modernas” vem confirmar a convicção da filosofia cristã, de que, uma vez deixado o Ser Eterno na sombra do esquecimento, a importância do ”homo sapiens” é reduzida a farelo. Deixa de ser o eixo para se tornar apenas um lance modesto da imensa roda dentada da criação. Chega-se ao cúmulo de afirmar que o “anthropos” é um grande intruso, um verdadeiro vilão da natureza. Não entra no esquema. Quando muito, deve considerar-se com direitos iguais aos dos outros seres.

E nada mais do que isso. É perda total da autoestima.

O escrito sapiencial nos apresenta uma humilde oração do representante da raça humana: “Vosso saber o ser humano modelou para ser rei da criação, que é obra vossa” (Sab 9, 2). Sem rodeios o autor sagrado considera o homem como rei da criação, e não apenas mais um na roda da vida. E por ser esse rei da criação, recebeu do Criador a incumbência de “reger o mundo com justiça, paz e ordem” (Sab 9, 3). Os ambientalistas com razão reclamam dos abusos e das destruições irreparáveis da humanidade (em todos os tempos). Basta olhar quantas espécies de animais e de plantas já desapareceram da face da terra. Sobretudo depois da vigência das idéias nefastas do primeiro capitalismo. Ainda hoje se pode ver a ganância irrefreável contra os bens que pertencem a todos. Somos a favor do progresso, mas como diz a Rio + 20  deve ser um progresso sustentável. O orante do livro da Sabedoria nos dá a chave do reto agir: “Dá-me o saber, ó Senhor, que esteja junto a mim no meu trabalho” (Sab 9, 10). Assim a liderança humana será bem sucedida, e terá a capacidade de cuidar de tudo. O homem é o eixo da criação.

 

“Eu sou apenas um lápis nas mãos de Deus. É ele que escreve.”

Qua, 27 de Junho de 2012 11:48

 por: cnbb

Dom Emanuel Messias de Oliveira Bispo de Caratinga (MG)

Esta frase é de Madre Tereza de Calcutá. Linda, não é? O que Deus gostaria de escrever a respeito da sua vida? Qual é o sonho de Deus para você? É bom lembrar que Deus tem um projeto amoroso para cada um de nós, desde toda eternidade. Quando Deus nos criou, ele nos criou à sua imagem e semelhança. Será o que Deus quis expressar com estas encantadoras palavras? Uma resposta adequada vai na linha da paixão amorosa que Deus tem para cada um de nós. Ele nos quer semelhantes a ele. Veja! Deus é louco de amor por você. Ele não é apenas o mais famoso escritor; ele é o mais excelente orador. E sua Palavra é Jesus Cristo e é através do Verbo Eterno, na força do Espírito Santo, que ele fala e sua palavra é criadora. Foi através de sua Palavra que ele criou todas as coisas: o universo com todas as suas galáxias, todos os sistemas solares, este lindo planeta azul, que chamamos “Terra” e também o ser humano, que foi criado à sua imagem e semelhança. Percebemos com a fala ou a escrita de Deus ainda mais, ou seja, que ele não é apenas um orador, mas o mais excepcional dos poetas. Você é um poema de Deus, escrito com o mais requintado gosto e arte.

Os santos foram pessoas dóceis que se comportaram como um lápis nas mãos do Pai e permitiram que Deus escrevesse sua história. Deus escreve nossa história sem intervir em nossa liberdade. Quando nós, quais crianças no colo do Pai, deixamos que ele nos conduza, Deus se enternece e nos enche de ternura, carinho, afeto e amor. Seu Filho Jesus deixou-se completamente embalar pelas mãos do Pai. Por isso, o Pai, depois do batismo do Filho, encheu-o do seu Espírito Santo e disse-lhe: “Tu és o meu Filho amado; em ti está o meu agrado”. O Filho foi todo do Pai e o Pai todo do Filho. O Filho deixou que o Pai escrevesse toda a sua história. Por isso, ele é “o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser”, o seu maior poema de amor. Nas mãos do Pai, o Filho não quis viver para si mesmo, mas para todos nós, concedendo-nos, com a doação de sua vida, a graça da filiação divina, tornando-nos filhos adotivos do Pai misericordioso. Agora somos coerdeiros com o Filho Amado. No Filho, o Pai nos doou tudo. Doou-se a si mesmo. Quem acolhe esta verdade no coração não quer viver para si mesmo para os seus irmãos, pois é nisto que consiste o amor, que flui do coração do Pai.

Os santos se distinguem de nós pela sua docilidade nas mãos do Pai. Não procuraram fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai. O sonho do Pai é que cada um de nós se torne um poema de amor escrito por ele. Assim o fez Tereza de Calcutá. Assim o fizeram os santos de todos os tempos. Assim o fez São João Batista, o padroeiro da nossa diocese, cuja festa celebraremos dia 24 deste mês de junho. Todos nós somos chamados a ser santos, a realizar, na doação de nossas vidas, o projeto do Pai.

Renuncie-se a si mesmo meu irmão e minha irmã, torne-se um lápis nas mãos do Pai e deixe que ele transforme sua vida num lindo poema de amor, escrito com tintas de luz.

Saudades do paraíso perdido

Ter, 26 de Junho de 2012 08:59 

por: cnbb

Dom Anuar Battisti Arcebispo de Maringá (PR)

Muitas vezes só valorizamos algo quando o perdemos. Sentimos o quanto amamos alguém, quando se está longe. Essa experiência da perda faz parte da vida humana. No entanto, existem perdas que acontecem por vontade própria, por uma decisão pessoal, condicionada pelo meio em que se vive.

Ninguém nasce alcoolista, dependente químico, ladrão, assassino, corrupto, safado...

O ser humano está sujeito a todo tipo de situações que não dependem de uma decisão unicamente pessoal. Para que ele decida algo é levado em conta uma série de fatores, que vem desde a concepção, até a educação, a formação ética e religiosa. O meio ambiente em que vive é determinante na formação do caráter e da hierarquia de valores e das suas escolhas. A velha frase ainda vale: "Diga com quem andas e direi quem és!"

Diante das escolhas feitas durante a vida não adianta chorar o paraíso perdido. Cada ser humano é livre para escolher e é obrigado a aceitar as consequências das próprias escolhas. Não adianta buscar culpados, jogar a responsabilidade nos ombros dos outros. A família faz o seu papel, a escola faz a sua parte, as igrejas vivem a sua missão, porém ninguém pode determinar a trajetória de ninguém.

E tudo isso é lindo, é maravilhoso, mas também é o tendão de Aquiles de toda a humanidade. Neste fim de semana quando a campanha contra as drogas sai às ruas, descem pelas antenas em nossas casas, chegam aos ouvidos pelos mais variados meios de comunicação, devemos nos questionar: Será que estamos fazendo a nossa parte para evitar o crescimento do número de dependentes químicos?

As associações dos Alcoólicos Anônimos, a experiência do Amor Exigente, as casas de recuperação ou de apoio, as mais variadas obras sociais, todas são iniciativas que brotam do coração inquieto de quem quer um mundo melhor.

Muitas dessas entidades são mantidas pelo esforço de centenas de voluntários e de colaboradores, tocados pela dignidade e desejo profundo de resgate da cidadania. Com certeza são iniciativas louváveis, profundamente cristãs e humanitárias. Mas sabemos que enquanto dedicamos energias para recuperar um ser humano, há outros entrando no mundo das drogas.

Sabedores desta triste realidade, o que leva a continuar essa luta é saber que um cidadão recuperado é um cidadão a menos caído nas ruas. O trabalho fundamental de prevenção e repressão está cada vez mais complicado. Mas não podemos desanimar em recuperar o paraíso perdido.

Nunca pode faltar o apoio aos homens e mulheres da segurança pública. Temos que denunciar sem medo, pois sabemos muito bem que há, inclusive, autoridades, "gente grande" envolvida no tráfico de drogas, contribuindo com toda essa podridão. Por que não atacar a indústria, a origem de toda essa máfia organizada internacionalmente? Não existe outra resposta a não ser o desejo do lucro fácil, da ganância em acumular riquezas, em manter impérios econômicos, viver na mordomia à custa da morte de seres humanos.

Por outro lado, a busca da prática dos vícios nasce do vazio do ser humano, da falta de sentido na vida, da negação de Deus, da perda da dimensão sobrenatural. Tudo em nome da felicidade. Fazem o querem; nada e ninguém valem mais do que as suas decisões; pensam que tudo o que vem do outro é autoritarismo, manipulação, inclusive da escola, da Igreja, e da própria família.

Hoje virou moda não acreditar em nada que seja superior a própria intelectualidade. São senhores de si, do céu e da terra. Criam para si seus próprios deuses, constroem altares e templos para dizer que não têm fé. Tudo isso é pura saudades do paraíso perdido. No fundo, tudo isso é uma grande sede de voltar para Deus.